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O LEGADO INACABADO DE OSCAR NIEMEYER.

Projetos não realizados revelam um tesouro arquitetônico oculto.


Nascido em 1907 no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer é reverenciado como um dos arquitetos mais visionários e revolucionários da era moderna. Sua marca registrada são as formas orgânicas e curvas ousadas, aliadas a uma abordagem singular de integração da arquitetura com o ambiente natural. Contudo, é em Brasília, a capital planejada do Brasil, que seu legado atinge proporções imensuráveis.


Responsável por projetar monumentos, órgãos públicos e até mesmo residências na cidade, Niemeyer deixou uma marca indelével na paisagem urbana de Brasília. O Congresso Nacional, a imponente Catedral Metropolitana e o majestoso Palácio do Planalto são apenas algumas das icônicas obras que definem o skyline da capital brasileira.


No entanto, por trás da grandiosidade dessas estruturas, permanece um tesouro arquitetônico pouco explorado: os projetos não realizados de Niemeyer. Por entre os esboços e projetos em estágios avançados, escondem-se ideias brilhantes que nunca foram transformadas em concreto e aço.


Questões políticas e religiosas frequentemente obstaculizaram a concretização desses projetos. Apesar do esplendor visível em cada esquina de Brasília, o legado de Niemeyer é ainda mais vasto e diversificado do que o que encontramos em suas construções finalizadas. Nos corredores da história arquitetônica da cidade, ecoam os murmúrios de uma criatividade frustrada, esperando ser resgatada do esquecimento.



MUSEU DA BÍBLIA



O Museu da Bíblia de Brasília emerge como uma controvérsia tanto intelectual quanto jurídica na história arquitetônica da capital brasileira. Apesar de nunca ter sido construído, o projeto provocou intensos debates sobre a autoria e os desenhos de Oscar Niemeyer. Desde 1987, quando Niemeyer elaborou um esboço para o "Templo da Bíblia - Memorial da Bíblia", até 2019, quando as intenções de concretizar o projeto ganharam força, o governo e a justiça travaram uma batalha pela permissão de execução, enquanto os herdeiros do arquiteto disputavam o direito sobre seu legado.

Apesar das diversas decisões judiciais, o museu nunca saiu do papel. Mesmo se tivesse sido construído, a neta de Niemeyer e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal contestariam sua autoria, alegando que Niemeyer não participou das etapas técnicas da concepção arquitetônica. Assim, o Museu da Bíblia de Brasília permanece não apenas como uma obra não realizada, mas também como um exemplo notável das complexidades envolvendo a atribuição de autoria e a preservação do legado arquitetônico de figuras proeminentes.


PRAÇA DA SOBERANIA

A Praça da Soberania, concebida pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, permanece como um monumento à visão não realizada e às disputas políticas que permeiam o cenário arquitetônico de Brasília.


O ambicioso projeto incluía um grande conjunto de construções, destacando-se um imponente obelisco de 100 metros de altura. Planejada para ser erguida em um dos gramados entre os ministérios e paralela ao Congresso Nacional, a praça tinha como objetivo simbolizar a soberania nacional e se tornar um marco arquitetônico na capital brasileira.

Contudo, questões políticas inevitavelmente entraram em jogo, impedindo a concretização desse visionário empreendimento. Em fevereiro de 2009, Oscar Niemeyer, em uma carta publicada no Correio Braziliense, resignou-se diante da derrota. Ele expressou seu pesar ao reconhecer que o governador do Distrito Federal não tinha as condições necessárias para executar o projeto que tanto os inspirava.


Assim, a Praça da Soberania permanece como um lembrete das complexidades envolvidas na materialização de projetos arquitetônicos de grande escala e da influência significativa que a política exerce sobre o desenvolvimento urbano e cultural de uma nação.



RESIDÊNCIAS



A incansável busca por novas perspectivas levou a estudante Mariana Jubé e a professora de arquitetura e urbanismo, Flaviana Lira, a mergulharem nos projetos arquivados de Oscar Niemeyer.


Em uma descoberta impressionante no Arquivo Público do Distrito Federal, elas desenterraram dois projetos residenciais inéditos do renomado arquiteto brasileiro.


No âmbito da pesquisa científica acadêmica, elas detalharam as visões de Niemeyer para a construção da Residência Oscar Niemeyer e da Casa Suspensa do Parque Residencial Lago.


A Residência Oscar Niemeyer, concebida em 1960, era uma habitação de dois andares planejada para ser erguida nas proximidades do Lago Paranoá, em Brasília. O projeto, composto por seis pranchas arquitetônicas detalhadas, revela uma disposição de espaços que separa as áreas sociais e de serviço por meio de um pátio interno. O volume superior, suspenso em pilotis, abrigaria os ambientes mais privativos, enquanto o térreo comportaria as áreas de convívio.



CASA SUSPENSA



Por sua vez, a Casa Suspensa do Parque Residencial Lago, datada de novembro de 1989, foi uma colaboração entre Oscar Niemeyer e Marinho Estelita para o empresário Tanit Sanches Galdeano. Localizada no S.M.T. – Trecho Norte, o edifício seria composto por seis pavimentos, apresentando apartamentos duplex nos quatro primeiros pisos e seis triplex nos dois últimos.


Uma planta quadrangular incomum para Niemeyer, uma escada trapezoidal central e piscinas de formas irregulares na cobertura seriam características marcantes. A fachada principal exibiria elementos modernos com grandes superfícies de vidro e módulos de concreto, enquanto um complexo anexo ofereceria diversas comodidades, incluindo áreas comerciais e administrativas.


Essas descobertas revelam não apenas a diversidade e a genialidade do trabalho de Niemeyer, mas também a riqueza de seu legado arquitetônico, que continua a inspirar e intrigar estudiosos e entusiastas da arquitetura até os dias de hoje.



MUSEU INTERNACIONAL DAS ÁGUAS

Um antigo projeto de Oscar Niemeyer, anteriormente não executado, está prestes a se tornar realidade como o Museu da Água, integrante do Memorial Internacional da Água (MINA). Concebido pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), o museu visa promover a conscientização ambiental, cultura e educação.


No evento de lançamento do projeto, em março de 2024, Gilberto Antunes, colaborador de Niemeyer por 50 anos, apresentou uma maquete impressionante, destacando a combinação de traços tradicionais e inovadores do arquiteto.


Niemeyer descreveu o museu em seu livro 'Minha Arquitetura', delineando uma estrutura circular sobre um grande lago. Com dois andares de exposições conectados por rampas e passagens aéreas, o museu proporcionará uma experiência imersiva única, com um grande jato de água no centro. O Museu da Água não apenas honra o legado de Niemeyer, mas também representa um marco na interseção entre arquitetura, meio ambiente e educação.


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