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NEUROARQUITETURA E NEUROURBANISMO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA PERSPECTIVA DA INFÂNCIA

Foto do escritor: Raquel DarodaRaquel Daroda

Por Raquel Daroda (Arquiteta e Urbanista)



Raquel Daroda é Arquiteta e Urbanista, Mestre e Doutora em Planejamento Urbano e Regional (UFRGS). Pesquisadora com foco nas áreas de neuroarquitetura, neurourbanismo, cidade e infância, políticas públicas para a primeira infância, tecnologia e espaços públicos e cidade educadora. Leia a bio completa no final deste artigo.
Raquel Daroda é Arquiteta e Urbanista, Mestre e Doutora em Planejamento Urbano e Regional (UFRGS). Pesquisadora com foco nas áreas de neuroarquitetura, neurourbanismo, cidade e infância, políticas públicas para a primeira infância, tecnologia e espaços públicos e cidade educadora. Leia a bio completa no final deste artigo.

A primeira infância é um período crucial para o desenvolvimento humano, no qual as experiências sensoriais e cognitivas são fundamentais para a formação das conexões neurais. Nesse contexto, a neuroarquitetura e o neurourbanismo surgem como abordagens inovadoras que buscam projetar espaços urbanos e arquitetônicos alinhados às necessidades cognitivas, emocionais e físicas das crianças. Este artigo tem como objetivo discutir como esses conceitos podem contribuir para a criação de espaços mais inclusivos e lúdicos, promovendo um desenvolvimento integral na primeira infância.


Neuroarquitetura: conceitos e aplicabilidade

A neuroarquitetura é uma disciplina que estuda a relação entre o ambiente construído e as respostas neurobiológicas humanas. Com base em pesquisas sobre neurociência, essa abordagem busca projetar espaços que potencializem o bem-estar e o desempenho cognitivo dos usuários (EDELSTEIN, 2008). Estudos indicam que fatores como iluminação natural, uso de cores, texturas e a distribuição espacial influenciam significativamente o humor e a capacidade de aprendizado (ZEISEL, 2006). Sob a perspectiva da infância, a neuroarquitetura traz benefícios que não objetivam apenas a funcionalidade dos espaços  , mas reconhecem e respeitam o modo como o cérebro infantil se desenvolve, podendo potencializar a interação das crianças com o espaço e a sensação de bem-estar; incentivar o livre brincar, a imaginação e a autonomia na interação com o espaço; estimular habilidades sociais e socioemocionais; ajudar o desenvolvimento sensorial e motor; e proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para o crescimento saudável.


No contexto da primeira infância, a neuroarquitetura se apresenta como uma ferramenta essencial para projetar espaços que estimulem a criatividade, a segurança e a interatividade das crianças. Ambientes planejados sob a perspectiva da infância, devem considerar aspectos como iluminação, cores e materiais táteis, estimulando a experiência sensorial e integrando ao espaço a oportunidade de um olhar curioso e interativo. Ambientes projetados com base nos princípios da neuroarquitetura podem proporcionar experiências enriquecedoras e favorecer um desenvolvimento mais equilibrado, promovendo maior autonomia e exploração. O projeto deve considerar como o espaço pode contribuir para o desenvolvimento integrando habilidades e promovendo a interação através de uma experiência positiva. Assim, alguns fatores que influenciam o bem-estar físico e emocional das crianças devem ser destacados:


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  • Luz Natural e Ventilação: A exposição adequada à luz do sol favorece a regulação do ritmo circadiano e melhora a qualidade do sono (STEVENSON et al., 2016).

  • Cores e Texturas: O uso de cores vibrantes e materiais diversos estimula a criatividade e a percepção sensorial (KULLER et al., 2009).

  • Espaços Verdes: O contato com a natureza reduz os níveis de estresse e promove interações sociais mais saudáveis (ULRICH, 1984).

  • Flexibilidade dos Espaços: Ambientes que podem ser reorganizados para diferentes atividades estimulam a autonomia e a adaptação das crianças (OLDS, 2001).


Crianças que vivem em ambientes urbanos planejados de forma inadequada podem enfrentar desafios como a falta de segurança para brincar ao ar livre

Nos projetos de arquitetura para as crianças, a neuroarquitetura é essencial para garantir que cada espaço não apenas atenda às necessidades funcionais, mas também inspire as crianças a explorar, se comunicar e se sentir parte do ambiente. Assim, a neuroarquitetura fornece diretrizes para criar espaços que não só acolhem as crianças, mas também promovem seu desenvolvimento integral, respeitando as suas necessidades, incentivando a exploração, o aprendizado autônomo e o desenvolvimento saudável.

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Neurourbanismo, o que é e como pode colaborar para pensarmos uma cidade melhor para as crianças

O neurourbanismo é um campo emergente que investiga a relação entre o ambiente urbano e os processos neuropsicológicos humanos, analisando como o design das cidades influencia o bem-estar mental e emocional de seus habitantes (ELLMARD, 2015). Esse campo interdisciplinar se baseia em descobertas da neurociência, psicologia ambiental e planejamento urbano para criar espaços que favoreçam a qualidade de vida da população, incluindo as crianças.


Crianças que vivem em ambientes urbanos planejados de forma inadequada podem enfrentar desafios como a falta de segurança para brincar ao ar livre, a poluição sonora e atmosférica e a escassez de áreas verdes. Segundo Tonucci (1996), uma cidade que considere os princípios da inclusão, atendendo a infância, deve ser projetada para permitir que as crianças tenham autonomia, espaços para brincar e oportunidades para explorar seu entorno com segurança. O neurourbanismo pode contribuir para esse objetivo ao integrar estratégias como a criação de ruas compartilhadas, parques acessíveis e infraestrutura que estimule a interação social e o aprendizado.


Pesquisas indicam que a presença de espaços verdes urbanos tem um impacto significativo no desenvolvimento cognitivo infantil, reduzindo o estresse e promovendo maior capacidade de concentração e criatividade (STEVENSON et al., 2016). Além disso, cidades que priorizam a mobilidade ativa, com calçadas seguras e áreas de lazer de fácil acesso, favorecem o desenvolvimento motor e social das crianças (LYNCH, 1977).

Portanto, repensar o planejamento urbano a partir da perspectiva do neurourbanismo e da infância, significa criar cidades que estimulem a curiosidade, o movimento e a interação social das crianças, garantindo um ambiente seguro e saudável para seu crescimento integral.


Cidade e Infância O espaço público desempenha um papel fundamental no desenvolvimento infantil, sendo um local de socialização, aprendizado e experiências sensoriais. O conceito de lugar, segundo Tuan (1977), está relacionado à experiência e à construção de memórias, sendo essencial para o senso de pertencimento e construção da identidade das crianças nas cidades. Nesse sentido, parques naturalizados surgem como uma alternativa aos tradicionais playgrounds padronizados, oferecendo ambientes mais ricos e estimulantes para o livre brincar.

Os parques naturalizados utilizam elementos como troncos, pedras, areia e vegetação nativa para criar espaços dinâmicos e exploratórios. Essas soluções baseadas na natureza permitem que as crianças desenvolvam habilidades motoras, cognitivas e socioemocionais de maneira espontânea. Estudos indicam que brincar em ambientes naturais favorece a criatividade, a resiliência e a conexão com o meio ambiente (LOUV, 2005).

Assim, a relação entre o neurourbanismo e a infância se manifesta na necessidade de projetar cidades que favoreçam o livre brincar, a autonomia e a interação com a natureza. Para isso, é essencial considerar:



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·         Acessibilidade e segurança nos espaços públicos, garantindo que crianças de diferentes idades e condições possam usufruir dos ambientes urbanos;

·         Infraestrutura verde, integrando parques, corredores ecológicos e áreas de lazer ao tecido urbano;

·         Espaços flexíveis e adaptáveis, que permitam diferentes usos ao longo do dia e incentivem a criatividade infantil;

·         Participação infantil no planejamento urbano, assegurando que as crianças tenham voz na construção dos espaços onde vivem.

Cidades que valorizam esses princípios proporcionam uma infância mais saudável e enriquecedora, promovendo não apenas o desenvolvimento infantil, mas também a construção de uma sociedade mais empática e sustentável.

 


Conclusão

A neuroarquitetura e o neurourbanismo oferecem um caminho promissor para transformar a experiência das crianças nos espaços construídos. Ao integrar princípios baseados na neurociência e no desenvolvimento infantil, é possível criar ambientes mais inclusivos, seguros e estimulantes. Dessa forma, arquitetos e urbanistas têm um papel fundamental na construção de cidades e edificações que favoreçam o desenvolvimento integral das crianças, promovendo uma relação mais harmônica entre o ser humano e o espaço urbano.



Referências EDELSTEIN, E. Building Health: The Link Between Architecture and Health Outcomes. Neuro-Insights Conference Proceedings, 2008.

ELLMARD, S. Cities and Mental Health: How Urban Environments Affect Well-being. Journal of Urban Design, v. 20, n. 3, p. 245-260, 2015.

LOUV, R. Last Child in the Woods: Saving Our Children from Nature-Deficit Disorder. Algonquin Books, 2005.

LYNCH, K. Growing Up in Cities. Cambridge: MIT Press, 1977.

STEVENSON, M. et al. Green Spaces and Cognitive Development in Children. The Lancet Planetary Health, v. 1, n. 2, p. e91-e100, 2016.

TONUCCI, F. La ciudad de los niños: Un modo nuevo de pensar la ciudad. Barcelona: Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 1996.

TUAN, Y. Space and Place: The Perspective of Experience. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1977.

ZEISEL, J. Inquiry by Design: Environment/Behavior/Neuroscience in Architecture, Interiors, Landscape, and Planning. New York: W. W. Norton & Company, 2006.

 

Nossa colunista:

Arquiteta e Urbanista, Mestre e Doutora em Planejamento Urbano e Regional (UFRGS), Especialista em Iluminação e Design de Interiores, Especialista Docência e Metodologias para o Ensino Superior (IPOG).


Docente convidada onde ministra aulas de pós-graduação nos cursos Master em Neuroarquitetura e Master em Arquitetura Comercial (IPOG). 


Criadora da plataforma Cidade Mini Alegre @cidademinialegre - iniciativa que tem diversos projetos e metodologias inovadoras com o objetivo de construir um novo olhar para a relação entre a Cidade e a Infância.


Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter campus Porto Alegre e Canoas (RS), onde também coordena a Extensão Universitária do curso.


Supervisora do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU-UniRitter) e Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo no campus Canoas. 


Pesquisadora com foco nas áreas de neuroarquitetura, neurourbanismo, cidade e infância, políticas públicas para a primeira infância, tecnologia e espaços públicos e cidade educadora - reconhece que o desenvolvimento de metodologias inovadoras pode contribuir para a construção de um mundo melhor para todos. Instagram : @raqueldaroda_arquitetura

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