[Parte I] DESIGN INCLUSIVO E REGENERATIVO: PROJETANDO AMBIENTES PARA IDOSOS E NEURODIVERSOS
- Lorí Crízel
- 17 de mar.
- 6 min de leitura
Atualizado: 24 de mar.
Por Lorí Crízel (Arquiteta e Urbanista)

A intersecção entre neurociência e arquitetura/design vem apresentando inovações no ato de projetar espaços. Recentemente, a relevância do design inclusivo e regenerativo ganhou destaque, abordando a necessidade de criar ambientes que acolham a diversidade humana, incluindo idosos e pessoas com neurodiversidade. Este enfoque não só amplia a acessibilidade como também promove a regeneração ambiental e o bem-estar dos usuários.
A neuroarquitetura, um termo cunhado para descrever a aplicação de conhecimentos neurocientíficos à geração de espaços, busca entender como diferentes ambientes afetam o cérebro e, por consequência, o comportamento e as emoções humanas. O design inclusivo refere-se à criação de espaços acessíveis e acolhedores para todos, independentemente de idade, capacidade ou condição. Já o design regenerativo vai além, visando não apenas evitar danos, mas ativamente melhorar o ambiente e a saúde dos seus ocupantes. Neurodiversidade, um conceito que reconhece e valoriza as diferenças cerebrais como variações normais da humanidade, juntamente com o envelhecimento e as práticas específicas de aging-design (ou gero-design), orientam o desenvolvimento de espaços que suportem as necessidades de uma população diversificada. Conceitos como design biofílico, que incorpora elementos naturais nos ambientes, e design salutogênico, focado na promoção da saúde, são fundamentais nesta discussão.
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A neurociência pode fundamentar o design aplicado à ambientes que promovam o bem-estar de pessoas com idade mais avançada, assim como de pessoas neurodiversas. Peter Zeisel, em "Inquiry by Design" (2006), um neurocientista cognitivo com vasta experiência em psicologia ambiental, argumenta que o espaço físico pode ter impactos profundos na cognição e no bem-estar emocional dos indivíduos. Sua pesquisa enfatiza a importância de entender as interações entre o ambiente construído e a saúde mental. Portanto, a produção arquitetônica pode se beneficiar da aplicação de práticas baseadas em evidências científicas sobre como os princípios da neuroarquitetura podem ser aplicados para gerar espaços inclusivos e regenerativos. Através da análise de estudos de caso e teorias relevantes, busca-se oferecer soluções práticas e inovadoras para os desafios contemporâneos do design de espaços, focando na melhoria da qualidade de vida de populações frequentemente negligenciadas pelo design tradicional.
A neurociência atualmente também aplicada ao design de ambientes, fundamentada na premissa de que a arquitetura pode afetar diretamente o funcionamento cerebral e, consequentemente, o bem-estar dos usuários, busca compreender como os espaços podem influenciar a saúde mental, física e emocional dos indivíduos. Suas origens remontam às primeiras investigações sobre a interação entre o ambiente construído e a neurobiologia humana, destacando-se na atualidade por sua capacidade de responder a complexas demandas sociais e individuais através do design.
Essas descobertas são particularmente relevantes quando aplicadas ao design de ambientes para idosos e neurodiversos, onde a sensibilidade a estímulos sensoriais pode ser aumentada ou diminuída.
Ao considerar grupos específicos como idosos e pessoas neurodiversas, a neuroarquitetura enfrenta o desafio de projetar espaços que atendam a necessidades únicas. Tanto a neurodiversidade quanto o processo de envelhecimento trazem consigo alterações cognitivas e físicas que exigem atenção especial no planejamento dos espaços. Essas alterações vão desde a necessidade de estímulos sensoriais adaptados até a adequação física do espaço para garantir segurança e conforto. John Zeisel, em "Inquiry by Design" (2006), aponta a importância de ambientes cuidadosamente projetados para suportar essas mudanças, sugerindo que o design pode ser um aliado poderoso na promoção da qualidade de vida.
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A neurociência fornece então subsídios sobre como os ambientes afetam a percepção sensorial, a cognição e as emoções. Resultados da obra citada indicam que características como iluminação, cor, textura e disposição do espaço podem influenciar desde a capacidade de atenção e memória até o humor e o estresse. Essas descobertas são particularmente relevantes quando aplicadas ao design de ambientes para idosos e neurodiversos, onde a sensibilidade a estímulos sensoriais pode ser aumentada ou diminuída.
Pesquisas indicam que espaços bem projetados podem reduzir a ansiedade, melhorar o humor e até mesmo afetar a progressão de condições degenerativas.
A influência do ambiente construído no bem-estar e na saúde mental desses grupos é um tema de crescente interesse. Pesquisas indicam que espaços bem projetados podem reduzir a ansiedade, melhorar o humor e até mesmo afetar a progressão de condições degenerativas. Esther Sternberg, em "Healing Spaces: The Science of Place and Well-Being" (2009), uma renomada imunologista e pesquisadora em medicina integrativa, destaca como ambientes podem ser curativos ou estressantes, dependendo de seu design. Sua obra reforça a ideia de que entender a relação entre espaço e saúde é fundamental para criar ambientes que suportem o bem-estar físico e mental.
Neurodiversidade é um conceito que abrange um amplo espectro de variações neurológicas, incluindo, mas não se limitando a, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, a até mesmo aspectos muitas vezes não citados dentro deste conceito, como ansiedade e depressão. Cada uma dessas condições traz consigo necessidades espaciais únicas, refletindo a diversidade de experiências sensoriais e cognitivas entre os indivíduos. Entender essas necessidades é crucial para o desenvolvimento de ambientes que promovam a inclusão e o bem-estar.
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· Os ambientes projetados a partir da perspectiva da neurodiversidade levam em consideração a sensibilidade a estímulos sensoriais, a necessidade de áreas de calma ou de estímulo, a importância da clareza visual e espacial, e a facilidade de navegação, dentre outros aspectos. Por exemplo, para indivíduos no espectro autista que apresentam hipersensibilidade, espaços com redução de estímulos sensoriais, como luzes fortes ou ruídos altos, podem ser fundamentais para evitar o desconforto. Da mesma forma, para aqueles com TDAH, ambientes que oferecem opções para movimento e atividade física podem ajudar na gestão da energia e concentração, assim como a promoção de espaços com poucos focos de distração podem auxiliar na concentração e produtividade.
Magda Mostafa, em seu trabalho "Autism ASPECTSS™ Design Index" (2014), uma arquiteta especializada em design inclusivo, destaca como o design pode ser adaptado para atender às necessidades de pessoas com TEA, oferecendo um conjunto de diretrizes para a criação de ambientes que suportem melhor suas interações. Essas diretrizes enfatizam a importância de considerar a neurodiversidade no início do processo de design, permitindo que os espaços sejam mais acolhedores e funcionais para todos. Assim, a aplicação de princípios de design biofílico pode oferecer benefícios significativos para indivíduos neurodiversos, trazendo elementos da natureza para dentro dos espaços construídos. Estes princípios não só melhoram a estética e o ambiente, mas também podem reduzir o estresse e aumentar o bem-estar. A incorporação de luz natural, ventilação adequada, vistas para a natureza e o uso de materiais naturais são exemplos rápidos de como o design biofílico pode ser utilizado para criar ambientes mais saudáveis e estimulantes.
A criação de espaços que respeitem e celebrem a neurodiversidade envolve um entendimento das várias maneiras como as pessoas percebem e interagem com os ambientes. Isso requer uma abordagem empática e estruturada no design, onde o objetivo é criar ambientes que atendam às necessidades funcionais e que promovam uma sensação de pertencimento e bem-estar para todos. Já os conceitos de Aging-Design e Gero-Design são inovadores no campo da arquitetura e do design de interiores, sendo ambos centrados em criar ambientes adaptáveis e acolhedores para a população de idade cronológica mais avançada. A palavra "aging", em inglês, refere-se ao processo de envelhecimento, enquanto "gero" deriva de "gerontologia", que é o estudo do envelhecimento e dos aspectos sociais, psicológicos e biológicos associados a ele. Portanto, Aging-Design tem foco em estratégias de design que apoiam o envelhecimento ativo e saudável, considerando as mudanças físicas e cognitivas que acompanham o envelhecer. Gero-Design, por sua vez, enfatiza a criação de espaços que promovem a qualidade de vida desta população, incorporando princípios de acessibilidade, segurança e conforto, tudo com o objetivo de manter a autonomia e minimizar o isolamento social nesta fase da vida. Ambos os termos refletem, na prática, um compromisso com o desenvolvimento de ambientes que respeitam e celebram o processo natural do envelhecimento, garantindo que os espaços sejam funcionais, inclusivos e acolhedores.
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Continua na próxima semana.
Nosso colunista: Lorí Crízel é Arquiteto e Urbanista | Presidente da ANFA no Brasil (Academy of Neuroscience for Architecture) | Membro da ANFA Center for Education Latin America | Autor do primeiro livro do Brasil sobre Neuroarquitetura | Senior Consultant em Neuroarquitetura do Escritório AKMX | Professor de Neuroarquitetura no POLI.Design do Instituto Politecnico di Milano/Itália | Coordenador de Pós-Graduações e dos Programas Internacionais do IPOG Brasil.
Editor-Chefe do Journal of Eco+Urbanism and Neuroarchitecture | Colunista de Neuroarquitetura para as Revistas ArchDaily e LumeArquitetura | Doutorando em Neuroarquitetura | Mestre em Conforto Ambiental | Especialista em Neurociências e Comportamento Humano
Certificações Internacionais de Design Thinking e Light Design pelo Instituto Politecnico di Milano/Itália | CEO do Escritório Lorí Crízel Arquitetos + Partners | Selo CREA/PR de Excelência em Projetos Arquitetônicos | CEO da Plataforma NEURO AI | Conselheiro CAU/PR | Mentor do Programa Design Tank Brasil | Membro Fundador do Projeto Neuro in Lab | CEO e Membro Fundador do Instituto Neuro.Bio.Design
Atividades de imersão profissional/acadêmica nos escritórios de Norman Foster (Londres), Zaha Hadid (Londres), Christian de Portzamparc (Paris), BIG (Copenhagen), Effekt Architects (Copenhagen), Concrete Architects (Amsterdã), Aires Mateus (Lisboa), Hassell Studio (Singapura), AEDAS Architecture (Singapura), Architects 61 (Singapura), Design Link Architects (Singapura), Tandem Architects (Bangkok), DBALP Jam Factory (Bangkok), X Architects (Dubai) e ODA Architecture (Nova Iorque)
Atividades Institucionais junto ao POLI.Design do Instituto Politecnico di Milano (Itália), McGill University (Canadá) e Universidade do Porto (Portugal). Instagram : @loricrizel
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